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Drenagem linfática manual (Parte 2)

Fonte: Godoy JMP et alii. Drenagem linfática manual: novo conceito. J Vasc Br 2004, Vol. 3, Nº1

Nas cirurgias de varizes, após a realização da safenectomia, freqüentemente utilizam-se compressas enroladas para drenar o sangue contido no trajeto da safena. Demonstra-se, assim, com a ilustração dessa prática diária do cirurgião vascular, a eficácia da compressão externa na forma de dispositivo em forma de rolo para a drenagem do subcutâneo. Na drenagem linfática, realiza-se a drenagem da linfa, que está dentro do linfático; assim, facilita-se a entrada do fluido intersticial por meio do desenvolvimento de diferentes pressões. A compressão externa, além de envolver os vasos linfáticos, afeta o interstício celular, no qual se encontra o fluido intersticial, responsável pela formação da linfa, que ocorre após sua entrada no interior do vaso linfático. Desse modo, quando estamos realizando a drenagem linfática, estamos promovendo diferenciais pressó- ricos. Conclui-se, assim, que o objetivo da drenagem linfática é criar diferenciais de pressão para promover o deslocamento da linfa e do fluido intersticial, visando à sua recolocação na corrente sanguínea.

Algumas peculiaridades são importantes em relação ao sistema hidrodinâmico dos vasos linfáticos. Uma delas é a presença de válvulas, que desempenham o importante papel de manter o fluxo unidirecional, evitando o refluxo, e fazem parte da estrutura contrátil do vaso linfático (linfangion). O linfangion é a porção de vaso linfático compreendido entre duas válvulas que exerce atividade pulsátil. É semelhante ao coração, por ter atividade contrátil própria. Outra estrutura diz respeito aos linfonodos, importantes no mecanismo de defesa imunológica, que funcionam como “filtros”e, portanto, acabam sendo os limitadores da velocidade de fluxo no sistema. A drenagem linfática manual deve obedecer ao sentido do fluxo, pois, se for realizada em sentido contrário, pode forçar a linfa contra as válvulas, podendo danificá-las e, conseqüentemente, destruir um “coração linfático”. Esta é a primeira lei preconizada para a realização da drenagem linfática.

Quando voltamos para o conhecimento da hidrodinâmica, verifica-se que a maneira mais simples de drenar um conduto é deslocando o fluido no mesmo sentido do fluxo, exercendo a pressão no trajeto deste. Outro fator importante são as barreiras que podem ocorrer no conduto, nas quais pode-se aumentar a pressão ou a velocidade para vencer a limitação imposta. Tal procedimento pode levar à destruição dessa barreira ou do conduto. Esse fato pode ocorrer quando estamos realizando a drenagem linfática, e, portanto, podemos destruir ou lesar o sistema. Os linfonodos constituem naturalmente barreiras limitantes e funcionam como “filtros” do sistema; portanto, são limitadores da velocidade de drenagem. Essa é a segunda lei da drenagem linfática, segundo a qual devemos obedecer à capacidade de filtração dos linfonodos, controlando a velocidade da drenagem e a pressão exercida. É importante alertar que movimentos circulares podem, em determinado sentido, ir contra a corrente, conforme ilustra a Figura 2. Caso a barreira seja forçada, corremos o risco de estar lesando os linfonodos. A linfa geralmente passa por três a quatro linfonodos antes de atingir o sistema venoso.

A técnica de Godoy & Godoy consiste na utilização de roletes que seguem o sentido de fluxo dos vasos linfáticos (correntes linfáticas) e mantêm a seqüência de drenagem proposta por Vodder. Além dos roletes, a técnica pode fazer uso das mãos ou de outro instrumento adequado, como roletes com constituição material leve e macia, que permitam a realização da drenagem linfá- tica seguindo o sentido dos vasos linfáticos ou da corrente linfática, simplificando, desse modo, toda a técnica de drenagem linfática.

Em associação a esses movimentos de drenagem, a técnica de Godoy valoriza o estímulo na região cervical como parte importante da abordagem desses pacientes. Apenas esse estímulo isolado melhora os padrões volumétricos. Quanto aos possíveis mecanismos de ação desse estímulo, a hipótese é que ele interfira com a estimulação dos linfangions através do sistema nervoso.

Enfim, sugerimos a eliminação dos movimentos circulares da técnica convencional e a utilização de movimentos mais objetivos, seguindo as regras da hidrodinâmica, da anatomia e da fisiologia do sistema linfático. Os principais cuidados referem-se aos linfonodos, que funcionam como limitantes da velocidade de fluxo e podem ser lesados quando abordados de maneira inadvertida.

Além da drenagem linfática, a associação de procedimentos é recomendada no tratamento do linfedema. As bandagens, os exercícios miolinfocinéticos, os cuidados da atividade da vida diária, as infecções e os cuidados higiênicos fazem parte dessa abordagem. O diagnóstico e a prevenção precoce do linfedema também são importantes.